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Hobbies

"Hobbies são manias que protegem o mundo de nossa insanidade, adquira alguns e terá menos vontade de atirar objetos sobre outras pessoas."
Viviane das Graças Vieira


terça-feira, 21 de dezembro de 2010

BALANÇO DE FINAL DE ANO

Mais um ano chega ao fim...
Festas, confraternizações, muita louça pra lavar, piadas de familia, amigo secreto... Todo mundo feliz desejando votos de felicidade e paz, tudo regado com uma porção de nostalgia: " Adeus Ano Velho..."

Pensando nisso e em muitas outras contas decidi listar algumas lições retiradas deste ano:

1. Lembra daquela frase: Amizade é como planta se não for regada morre! Acrescente ao final, se for regada demais a plantinha também morre!!!

2. Todas as pessoas tem o direito de sentir-se burras ao menos 5 vezes ao ano, mais do que isso é melhor pedir ajuda.

3. Há problemas que podemos resolver ou ajudar a solucionar, com estes devemos nos preocupar e tomar uma atitude . Os demais deixamos que outros se preocupem...

4. As pessoas são complicadas, não perca tempo tentando decifrá-las, para isso servem os psicólogos.

5. Banho gelado e sorvete de chocolate pode ser um bom remedio em determinadas ocasiões.

6. As coisas ficam mais fáceis quando nos baseamos sobre expectativas reais de nossas possibilidades. Não se pode carregar ao mesmo tempo uma melancia e uma jarra de vidro.

7. Quando viajar leve fones de ouvido e óculos escuros.

8. Depois de ignorar as correntes que chegam ao seu e-mail as pessoas não desistem, adicione uma caixa prioritária no seu e-mail e verá como elas desaparecem.

9. A brincadeira de amigo secreto sempre é fonte de frustrações, mantenha suas expectativas baixas e talves o resultado seja mais positivo.

10.   Em ano de eleições, todos entendem de política até que todas as urnas sejam contadas.

Lembrem -se :
*Nenhuma pessoa é boa demais ou ruim demais, são simplesmente pessoas.
*Papai Noel não existe, e se existisse não usaria uma roupa verde, nem distribuiria refrigerantes...
*Coelhinho da Páscoa não bota ovos, mesmo se botasse (o que seria uma aberração porque ele é macho) não seriam de chocolate trufado.
*Hobbies são manias que protegem o mundo de nossa insanidade, adquira alguns e terá menos vontade de atirar objetos sobre outras pessoas.

Por último,mas não menos importante,
não acreditem em tudo o que as pessoas escrevem em blogs.

Boas Festas!!!



VIVIANE DAS GRAÇAS VIEIRA

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

NO BANCO - Parte 1

Tarde de primavera, no interior do estado, fácil de confundir com verão no litoral. O sol tão forte criava ondas na estrada como se o azul do asfalto tivesse se transformado em mar.


Pessoas apressadas seguiam de um lado para o outro da rua, olhares não se cruzavam... Muitos óculos de sol... O calor, a desidratação e tudo isso nem é o pior, o maior desafio ainda estava por vir.


Parado em frente à porta giratória, preparava-se para a experiência que religiosamente era obrigado a viver ao menos uma vez por mês. Dirigia seus passos imaginando quantos objetos seria necessário depositar na bandeja para evitar ouvir a sirene da porta; retirou dos bolsos: o celular, as chaves, o relógio. Pensou até em retirar a prótese dentária, mas isso já era demais.


“Por favor, deposite na bandeja ao lado objeto de metais, aparelhos eletrônicos...”


“É só uma maquina!” repetia em sua mente para não cometer a insanidade de proferir os mais diversos palavrões que aprendera em sua ultimo engarrafamento no centro de São Paulo. Depois de 20 minutos de “tira e põe”, a primeira etapa havia sido cumprida. O seu homem interior tentava com esforço lembrar-se de todos os ensinamentos das aulas de ioga, em sua mente se imaginava em posição de lótus em um verde campo, saboreando doce brisa ao som do cantar dos mais belos pássaros...


- Senhor: pagamento, abertura de conta, cheque ou deseja ser atendido pelo gerente?


“Eu desejo ser atendido!” Pensou, mas não falou.


-Pagamento.


-Pode se dirigir ao caixa dois.


A segunda, e não menos penosa etapa estava começando: a fila


- Aguarde a segunda parte-

                                                                                         VIVIANE DAS GRAÇAS VIEIRA

terça-feira, 30 de novembro de 2010

"BOBAGENS"

Todo mundo já se apaixonou... Acho que essa é uma boa frase para começar esta história.
Todos, ou quase todos já passaram pela experiência de se apaixonar, de fazer bobagens sem sentido que no momento pareciam ser o mais razoável. A vida de quase todas as pessoas é como uma comédia romântica, acontece que nem sempre termina com um beijo.

2002
-  Não acho tanta graça nesses pirulitos!
- O que você disse?
- Não gosto desses pirulitos.
-Ah!... Tive uma idéia, estamos em seis, certo?
- Certo.
- Somos três casais...
- A matemática e a biologia das afirmações estão corretas.
- Ok, não me interrompam. E se nos casássemos?
- Todos nós? Estou confuso.
- Não! É uma espécie de jogo, com direito a um contrato simbólico. Ganhamos direitos e deveres, quem conseguir manter por mais tempo ganha.
- Qual o sentido?
- Por que precisa ter?


2004
- Que classe  você caiu?
- Ainda não fui ver. Vou viajar.
-Para longe?
-Não muito.
- Vai demorar?
-Só uma semana.


-Oi.
-Oi.

- Façam as questões da pagina 5!

-O que foi?
-Nada!
-Porque voe está rindo?
-Você não esta vend... esquece!

- Ei! Ei!
- O quê?
- Nada, não.

- Ei! Ei!
- Pára!
- Rsrsrsrsr

-Por que você está rindo?
- É..., esquece!

- Me compra um chocolate?
- E o que você me oferece?
- Minha gratidão.

- Eu não acredito que ele foi enfrentar aquela fila pra te comprar um chocolate.
- Ele sempre vai.

- Ei! Ei!
- Ai, de novo não!
- Agora é sério, olha aqui!
- O quê?!
Rsrsrsrsrsrsr


2005
- Eu gosto de você!
- Sério?!
[...]

- E aí, falou pra ele?
- Não gosto desses pirulitos
- Foi tão mal assim?
- Não sei, depois de 10 minutos de silencio eu fui embora.

2006
- Sabe, está chegando o baile de formatura e eu queria saber se você...
[...]

- E aí, o que ele disse?
- Dessa vez eu esperei 15 minutos.
- Nada?!
- Silencio.


2008
- Você precisa fazer alguma coisa! Gosta dele há anos.
- Vou escrever uma carta.
- É arriscado...
- Última tentativa.

- Engraçado, quando me disse que escreveria uma carta, até achei romântico, mas acordar às seis da manhã para colocar a carta na caixa do correio já é demais.
- Achei que fosse minha amiga.
- A padaria ainda nem abriu e eu estou aqui, com sono e fome, se isso não for amizade....


- Alguma resposta da carta?
- Podemos mudar de assunto?

2010
- Oi.
- Oi
- Quer uma carona?
- Seria ótimo.

- Chegamos.
- Obrigada, pela carona.
- Espera...
- Preciso descer, a gente se vê.

[...]

- E aí, falou com ela?
- Não deu tempo.

VIVIANE DAS GRAÇAS VIEIRA

domingo, 26 de setembro de 2010

Saudades (para meus grandes amigos pelos bons momentos)

Estou lhe escrevendo pra dizer que sinto sua falta. É sério, sinto mesmo. A vida perdeu um pouco da cor, as noites ficaram mais longas e os dias vazios, até mesmo as ameixas da casa do vizinho deixaram de ter o mesmo sabor.
Cheguei a casa mais cedo certa tarde e procurei na casa inteira, revirei meus livros, passei por todos os canais da TV, fiz uma busca avançada no Google e ainda assim não encontrei o que procurava. Corri a mão na lista telefônica e já estava preparada para ligar para o CVV, então olhei o porta-retrato na escrivaninha do lado do telefone e percebi que sentia tua falta.
Sinto falta das vezes que enlouquecíamos o dono da locadora rindo dos nomes dos filmes e citando as teses que nos impediam de alugar o filme do Pelé ou do Homem Mosquito...
Sinto falta do sorvete que dividíamos quando tínhamos tempo entre uma aula e outra, ou dos salgadinhos que comprávamos depois de ter contado todas as moedas do fundo da bolsa...
Sinto falta das conversas embaixo de uma grande árvore que tinha na praça, de como o vento soprava de leve e a sombra era gostosa. Também sinto falta das vezes que chovia e tínhamos que sair correndo a procura de um abrigo...
Sinto falta das vezes que conversávamos e conversávamos por horas... Sinto falta de quando dividíamos a caixa de bombom dentro do cinema, enquanto todo mundo comia pipoca; de quando dividimos o último pacote de batatas fritas, de quando dividimos problemas, soluções, medos, paranóias e bobagens... Muitas bobagens...
Tenho saudades das vezes que brigávamos para ver quem estava certo, mas no fim nem importava. Tenho saudades de quando orávamos juntos, cantávamos juntos, acordávamos de madrugada, enfrentávamos a chuva e o céu negro da tempestade, depois nos encolhíamos embaixo de um só guarda chuva...
Pode parecer nostálgico, e é! Mas hoje, por esse minuto quero me permitir ser... Em alguns momentos - preciosos e bons momentos - a vida nos permite ver um filme antigo rodando na nossa memória. E só quem já sorriu dos próprios tombos, quem já tomou banho de chuva, já pagou mico no ônibus ou ficou batendo papo até altas horas na calçada pode entender o gosto que tem a experiência de tentar puxar esses momentos de novo e tentar fazer acontecer mais uma vez.
Sinto falta de quando jogávamos Uno, assistíamos a filmes no meio da tarde. Atravessávamos a pé o lado errado do estacionamento do shopping, apostávamos quem comia o lanche mais rápido, rachávamos a conta. Corríamos pra pegar o ônibus, sentávamos nos bancos altos ou nos últimos só para não fugir do convencional.
Sinto falta das mensagens de celular, dos e-mails engraçados, dos comentários irônicos, dos bilhetinhos passados de mão em mão enquanto a professora não estava olhando.
Sinto falta de tanta coisa, que quase nem cabe em mim...
Por não caber em mim, a saudade me convenceu a te escrever. Não faz tanto tempo que nos vemos, foi perto do orelhão aqui na rua, há poucas horas na igreja, de manhã pela janela do ônibus... Nem estamos há tanto tempo sem se falar foi nesta ou na outra semana pelo telefone ou e-mail. Mas parece que faz tempo, porque quando cheguei a casa, cheguei cedo demais e tinha tempo demais até a hora de dormir, foi assim que encontrei espaço demais pra sentir sua falta.
Amanhã quando nos encontrarmos ou nos falarmos, ou mesmo se isso não acontecer porque a distância pode impedir gostaria que soubesse que ainda há espaço no meu tempo e na minha memória para mais sorvetes, mais filmes, mais conversas e mais risadas... Eu sempre vou estar aqui...

VIVIANE DAS GRAÇAS VIEIRA

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Desabafo.

Feia, solitária, pequena, insignificante, essa sou eu. Aqui, trancada numa vida nostálgica, já nem me lembro que faço parte da criação. Será que alguém sente a minha falta? Num mundo como este, individualista, nunca fui lembrada, sequer mencionada; quem me procuraria?Foi sempre assim, eu andava pelas ruas, avenidas, jardins, observava a natureza, mas, será que ela me observava? Diante dessa imensa solidão não acho importância na minha existência. Tantas pessoas passaram por mim, tantos invernos, tanto frio e eu sozinha. Se ao menos lembrassem ou tivessem a ousadia de procurar-me, mas quem?Se soubessem da minha paixão pela vida, minha vontade de ser feliz, meus desejos, meus objetivos, a minha beleza interior. O mundo vive de aparências, quando mais nova dentro de mim existia a esperança de cruzar o céu, de ser importante, admirável... Essa esperança se finda e me consome. Prefiro privar o mundo dessa horrível aparência. Mas até quando? Até quando eu ficarei aqui, nessa escuridão profunda? Ao falar sinto algo estranho acontecendo, acho que é o meu fim, acabou! A solidão fez o que devia ser feito. A sensação é estranha, não sei se é adeus ou um recomeço, simplesmente começo enxergar uma luz...
No decorrer do ciclo da vida, de um casulo no alto da árvore, surge uma nova vida, linda e bela: uma borboleta.
VIVIANE DAS GRAÇAS VIEIRA

23 de setembro: inicio da Primavera

quarta-feira, 23 de junho de 2010

CARTA À SEQUESTRADORA

Prezada sequestradora,
Não que lhe preze de verdade, mas não sabia ao certo que cumprimento usar. O que venho através dessa carta é pedir, mais do que pedir, suplicar que me devolva para mim. Que me leve de volta para o meu lugar, devolva meus sonhos e planos, deixe-me recuperar meus amores.
Não creio que este seja um pedido incabível, eu, melhor do que ninguém, o posso fazê-lo. Podia, para convencê-la, contar-lhe minha história, descrever meu sofrimento, se bem que os conhecem todos, pois fostes a única durante este cativeiro a testemunhar a minha dor.
Eu sei que não adianta gritar, brigar ou espernear, resolvi, então, lhe escrever de forma adulta  e cordial, para quem sabe, você me ouça, me atenda e me liberte. Permita-me ser eu mesma, sem medo nem receio, e talvez amanhã quando despertar a  primavera, o raio de sol que acorda as flores venha iluminar o meu quarto, uma suave brisa bata a minha janela e a porta se abra para a rua, para as cores e para quem quer que passe.
            Se meu pedido, até agora, não alcançou seu consentimento e sua compaixão, gostaria que se lembrasse do dia em que me fez prisioneira e roubaste o meu céu.
Lembro que era uma tarde de outono, um lindo céu azul, uma brisa gostosa que fazia os galhos das árvores dançar levando ao chão as folhas amareladas, lembro das crianças correndo no parque jogando uma pequena bola para um cachorro, recordo, como se fosse hoje, dos adolescentes que voltavam da escola comemorando o fim de mais um dia de aula.
Quero que se lembre desse dia, do frio da tarde que previa o inverno. Quero que se lembre e não me permita esquecer do gosto das coisas simples.
Não quero sua tecnologia, seu raciocínio lógico ou sua inteligência, não quero ciências exatas, nem sua matemática; não quero os números que revestem as paredes, as possibilidades de fracassos e as porcentagens, não ligo para os gráficos ou para as pesquisas das grandes revistas, não preciso de toda essa proteção.
Só te peço que me devolva as boas lembranças, a liberdade de pisar na areia e senti-la entre meus dedos, o gosto da chuva tocando o meu rosto e o cheiro da terra molhada. Devolva-me o brilho nos olhos e o sorriso verdadeiro.
Permita que esse inverno acabe, que venha logo a primavera com sua roupa leve e colorida, e que no verão esta história seja contada, pela lição que dela foi tirada, da vez em que a razão seqüestrou a emoção, mas em tempo caiu em si, entendeu que assim não podia ser feliz, que o certo as vezes é incerto e que o exato é passivo a falhas; voltou, então, a sua razão fez-se submisso ao seu seqüestrado, tornou-se aliado do seu coração.

VIVIANE DAS GRAÇAS VIEIRA

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Dias...


Há dias e dias,
certos dias quando as coisas não fazem sentido,
quando a humanidade parece meio maluca.
Quando olhamos e não vemos,
Escutamos, mas não ouvimos.
Certos dias...

Dias de chuva ou de sol
- não sei –
Dias em que o sol não esquenta
E a chuva não molha.
Dias...

Todo mundo já presenciou
Tal dia tão ausente:
Que não é passado, futuro
Ou presente

Existe um vazio tão cheio
E uma multidão tão solitária.
No meio do tumulto
Ouve-se o silencio
E o silencio é ensurdecedor.

Dói uma dor
de viver certos dias...

Dias que serão esquecidos
Ou depositados no inconsciente
Desse presente ausente
 Que deixa marcas na areia
Dos passos que não pisamos
De dias que não vivemos.


VIVIANE DAS GRAÇAS VIEIRA

domingo, 6 de junho de 2010

INSANIDADES

- As fotos ficaram ótimas, você não acha?
A pergunta parecia não fazer sentido algum, seus olhos estavam fixos nas fotos, mas seus pensamentos voavam. Ignorando a ausência de resposta, o fotógrafo continua:
- O álbum completo ficará 180 reais já com 10% de desconto...
O homem parecia lançar palavras ao vento, falava do valor das fotos, da iluminação, das parcelas, do melhor dia pra pagar; e a garota parecia imóvel segurando uma foto. Na sua mente era como se o tempo tivesse voltado e ela pudesse ser telespectadora de toda aquela história.
Visualizou sua entrada no salão de formatura: estava linda, o cabelo com grandes e modelados cachos e um vestido preto frente única que havia lhe “caído como uma luva”. O cenário era perfeito, o salão todo decorado, as luzes e o som em uma harmonia única. Tudo parecia impecável ainda assim nenhum sorriso lhe escapava.
Havia se preparado o ano todo para aquele dia, eram tantas expectativas. Já tinha pensado em todos os detalhes e calculado todas as variáveis, mas um erro no percurso, uma palavra dita no momento errado mudou completamente seus planos.
Uma tarde, um ônibus, um pedido, uma resposta, uma palavra. Parecia tão simples...
A seqüência trágica de desencontros a levou até aquele momento. Entrava no salão acompanhada por um jovem bem trajado e igualmente sério, observaram a mesa onde haviam alguns amigos e sentaram. A situação não lhe agradava, o rápido namoro havia terminado, não sem antes lhe deixar o amargo sabor da decepção.
Compreendeu que o relacionamento não tinha futuro e não estava triste pelo fim, estava triste pelo começo.
Ter o ex namorado como par para aquela noite tão sonhada não era o que esperava, contudo não podia voltar atrás.
A música já a deixava tonta, em uma tentativa de fuga levantou-se da mesa para andar pelo salão, foi quando...
- Qual o melhor dia para o vencimento?
-Ah?!
- Dia dez ou vinte?
Vinte metros, era a distancia que a separava da tentativa de salvar sua noite. Sem mais a perder subiu a escada até o fim do mezanino do saguão. Foi como se de repente estivesse vivendo o final de um daqueles filmes românticos que alcançam o ápice na festa do baile de formatura e mesmo depois de todos os desencontros no final do baile, ao som da ultima valsa, o casal apaixonado ainda tem uma chance.
Este era o momento em que tudo podia ser resolvido: o dialogo leve, os sorrisos, as palavras ganhavam forma  e encobriam o barulho ensurdecedor da música ao fundo. Nascia a esperança de um final feliz para aquela noite, nada mai importava. O som, as cores e tudo mais pareciam perder a cor diante daquela cena.
- Moça, dez ou vinte?
- Vinte. – falava sem compreender o porquê.
Logo seus pensamentos voltaram para aquela noite Tudo tão perfeito, tão especial e único, o final feliz com o qual sonhara estava acontecendo.
Os olhares dos dois se cruzaram, um silêncio expectante surgia, a vida em volta desvanecia para dar lugar ao som, ao tom, à cor daquele momento. A aproximação sutil...
- Assine aqui, por favor.
A garota segurou-se para não insultar aquele que ousava interromper o ponto alto do seu devaneio. Só não o fez porque o fotografo revivia uma personagem também presente na história daquela noite.
Sutil como uma manada de gnus fugindo da presa, foi assim o surgimento da terceira pessoa – que fique claro:  não convidada a participar daquele instante.
( Paro por aqui para permitir que você volte e releia a emocionante cena descrita antes da pergunta do fotógrafo para que possamos continuar)

... A aproximação sutil do jovem casal foi subitamente interrompida pela participação especial de uma nova personagem intitulada como “a amiga”.
Por mais que tentasse, sua lembrança não ultrapassava esse ponto. O clima de romance foi substituído pelo desconcerto e improviso, a noite terminou antes do previsto e o que restou foram algumas fotos.
O fotografo se despediu e a moça em passos lentos dirigiu-se de volta para dentro da casa. Guardou o álbum em uma parte pouco utilizada do armário em baixo de alguns livros e nunca mais tirou de lá.
Questionada meses mais tarde a respeito do desaparecimento do fotografo ela alega jamais tê-lo visto.
Ainda há gotas de sangue no álbum...


VIVIANE DAS GRAÇAS VIEIRA

segunda-feira, 24 de maio de 2010

MINUTO MELADO

Este texto é antigo...
Faz parte das série: cartas
Sem nenhuma relação com condições atuais. 


Hoje encontrei um diário da minha adolescência, descobri que minha adolescência foi bizarra, ainda bem que passou... por isso encontrei um texto igualmente antigo para postar. Bem vindos ao minuto melado!



A última carta.
Doce e eterno amor,
 
Guardei este envelope por tanto tempo que já não me lembrava mais dele, já havia me esquecido desta última carta. Quando tudo terminou, eu só queria te esquecer, agora, depois de todos esses anos, me lembro que foi em meio a lágrimas e um último “adeus” que este envelope caiu de suas mãos.
Recordo-me daqueles dias; dias em que tudo só queria nos separar, e o “tudo” foi maior que o nosso amor. Amor de adolescentes separados pelo destino e pela distancia, amor atropelado pelo trem que partiu.
Com receio abro a carta, selando cada instante com um olhar ao mar. Em meio ao som das ondas, estas suas últimas palavras soam como música:
“Ainda que a vida nos separe, a eternidade nos unirá. Ainda te amo!
Talvez estas sejam meu último suspiro e estas minhas últimas palavras lançadas ao mar. Se nas águas de alguma praia encontrar esse bilhete, hoje ou amanha, só queria te dizer: “Tentei, mas nunca consegui te esquecer, eu também te amo!”
      Do seu amor para todo o sempre.

VIVIANE DAS GRAÇAS VIEIRA

domingo, 25 de abril de 2010

Discutindo o relacionamento

- Oi, precisamos conversar!
Não eram raros esses momentos, mas aquele parecia de fato importante. Os olhares se cruzaram, a mesma preocupação e tom de seriedade na expressão.
- Não é uma boa hora para discutir relação, o dia mal começou...
- Nenhuma hora é suficientemente boa, você sempre procura uma desculpa!
- Tudo bem, pode falar.
- Não estou gostando do seu comportamento!
- De que comportamento você esta falando?
- Você sabe!
- Seja especifica...
(suspiro) Instante de silêncio. A conversa não era simples, muita coisa precisava mudar. As coisas não estavam fáceis e há algum tempo se falavam com tanta franqueza.

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- Você confia em mim?
- Sabe que sim, isso é uma pergunta tola.
- É relevante!
- Tudo bem!
- Então, posso ser sincera?
-Achei que já estávamos sendo.
- Será que os comentários irônicos podem ficar lá fora?
- Alguém esta de péssimo humor! Não quero discutir, esquece a ironia. Mas seja objetiva.
- Engraçado mencionar foi o que você esqueceu ontem, a objetividade!
- Não acredito, é isso!
- Devia ver a cena, foi digna de pena. Quantas vezes você foi até o telefone? Isso é obsessão!
- Não foi bem assim! Eu estava esperando uma ligação, o som do telefone está baixo e algumas vezes não dá para ouvir chamar.
- Me desculpe, acho que não tive a informação completa; ele prometeu que ligaria?
- Deu a entender que sim.
- Isso foi o suficiente para mudar o telefone para seu quarto?
- Não me censure, fiz em favor da praticidade.
- Eu chamaria de...
- Do que?
- Esquece!


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- Porque acha que ele não ligou?
- Não sei, devia estar ocupado
- È, com certeza! Devia estar muito ocupado em um dia que está de folga do serviço, e as  vésperas de  um feriado. Provavelmente, estava atarefado com os preparativos para o almoço de Tiradentes.
- O que aconteceu com aquele papo sobre ironia?
- Isso não foi ironia, foi sarcasmo.
- Achei que fosse a mesma coisa.
- Não vem ao caso...

- O que você quer que eu diga? Que fui patética, tola, ridícula? Que a sombra da menor possibilidade, fiz o papel de uma romântica incorrigível, a espera de um milagre?
- Eu usaria só os dois primeiros adjetivos, mas pode definir como quiser

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Alguns segundos de silencio, enquanto toda cena dos últimos dias passam como um filme na mente. Nunca se encontrara nesta situação, há dias não era a mesma pessoa... Músicas românticas, poemas de Vinicius de Moraes, coraçõezinhos, florzinhas... Realmente, era de se estranhar. Não foi a toa que chegou a esse ponto.
Anos de faculdade e cursos, inteligência notável. Extremamente equilibrada ( nem tanto!), profissionalmente impecável, exímia oradora, viu-se sem palavras diante da sua atual condição.
Mais alguns minutos, até recobrar sua consciência. Riu consigo mesma, olhou de novo para aquela que a questionava, suspirou fundo:
- Você tem razão!
- E o que você  vai fazer?
- Eu já fiz.

- Você é incrível!
- É eu sei!

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Alguém bate na porta do banheiro:
- Vai demorar?!
- Não, já acabei!
Olha pela ultima vez o espelho, ajeita o cabelo e suspira ao encarar o reflexo ao sair: “Bom dia!”

VIVIANE DAS GRAÇAS VIEIRA





domingo, 11 de abril de 2010

quarta-feira, 24 de março de 2010

QUANDO EU ACORDEI

Acordei e vi que as horas haviam passado... Abri os olhos e vi que tudo havia mudado.
Tinha medo de acordar, mas acordei. Descobri que era noite. Que os amigos não estavam mais por perto, que muita coisa aconteceu: planos, sonhos, conquistas e eu não estava aqui.
Esta não foi a primeira vez que  abri os olhos, mas a cada vez é mais difícil. Já me esqueci o que é olhar nos olhos; não me lembro do que é falar sem medo, sem calcular cada palavra. Acostumei a falar o que querem ouvir e algumas mentiras até me enganam. Não sei o que é chorar para alguém ou o que é pedir ajuda.
Percebi, depois de tantos anos, que nem sequer gravei certos rostos, que vi a pouco como se fosse a primeira vez. Cheguei à conclusão de que Carlos Drumond, Mario Quintana e Luis Fernando Veríssimo sabem mais sobre mim do que eu mesma, ou ao menos é o que parece.
Tanta coisa eu queria ter feito e não fiz, queria ter dito e não pude. Tantas vezes quis chorar e sorri. Quantas verdades foram omitidas, quantos segredos foram segredos por não ter para quem contar.
As melhores crônicas não foram postas no papel, os maiores segredos ficam nas entrelinhas. A verdade fica escondida no fundo dos olhos, é onde, hoje em dia, ninguém procura.
Foi assim, eu acordei, quis gritar, mas não gritei. Quis um bom fim para a minha história e não encontrei.
Acordei, me senti só, cansada e triste. Contudo uma boa noticia: eu “senti” – não estava mais dormindo.
VIVIANE DAS GRAÇAS VIEIRA

terça-feira, 16 de março de 2010

quarta-feira, 3 de março de 2010

Ócios do pacote

Dizem que enquanto um brasileiro descansa um chinês trabalha. Não duvido, nem contesto, acho até uma teoria interessante. Mas já se viu em outro país um funcionário como o brasileiro? Temos o dom de absorver serviços inimagináveis, não somos os mais ágeis ou infalíveis, porém se erramos, o fazemos com classe e sabemos ser flexível.
Trabalhei num respeitável setor de pacotes de uma renomada loja em minha cidade. Foi um bom emprego, o meu melhor primeiro emprego, lá eu presenciei diariamente situações que me proporcionaram um aprendizado incomensurável.
Havia coisa que eu amava outras, no entanto, que dói só de lembrar. Vi de perto algumas situações que me levaram a observar algumas curiosidades, como por exemplo, o fato das pessoas se preocuparem tanto com a opinião de terceiros.

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A mulher compra uma bacia – o item varia podendo ser uma caixa de isopor ou uma panela industrial – o caso é que não há uma sacola que comporte tais produtos. E então? Pelo estranho desconforto em imaginar a reação das outras pessoas ao verem esse objeto sendo carregado pelas ruas e ônibus, as pessoas fazem a seguinte opção, para o desgosto do empacotador:
- Pode passar um papel?
E ainda arrematam:
- É para as pessoas não ficarem olhando.
Passar um papel?! Sabe que papel é esse? É manilha ou Kraft e dependendo da situação financeira e do humor do funcionário pode ser até jornal. Pobre, pobre, pobre! Se não é tão pobre, é pobre e feio.
No lugar de uma bacia de cor saliente e grande utilidade doméstica, a dona de casa se propõe a andar com um estranho e gigante embrulho atraindo olhares curiosos e críticos. Contraditório e esquisito!

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[...]Existem clientes carentes e atendentes carentes, são aqueles que mendigam uma conversa, ainda que boba falando sobre  o tempo. Em meio ao silencio de um embrulho o cliente começa a contar para quem é o presente e termina citando a manchete do jornal de domingo. Funcionário carente é o que em poucos minutos passa a falar mais do que o cliente revelando seus traumas e expondo sua intimidade.


Entre casos e acasos do cotidiano de cada trabalhador, convive-se com o difícil contraste entre o que somos e o que fazemos, conciliar essa situação pode ser exaustivo, contudo acredito que ninguém o faça melhor do que o brasileiro. Pelo menos não com tanta alegria, criatividade e excelência atrás ou na frente de um balcão. 

Viviane das Graças Vieira

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

O DILEMA DA ROSA

O mundo enlouqueceu as noites não são mais aquelas, os sonhos foram esquecidos...
Ainda me lembro, mas não com tanta precisão, das tardes de outono, quando o vento batia na janela e corríamos livremente pelas ruas e calçadas, deitávamos nas gramas macias da praça e riamos desenhando a vida nas nuvens; já tarde retornávamos colhendo as flores mais lindas dos jardins para evitar as broncas maternais. Recordo que minha mãe sempre esperava na porta e toda nossa correria acabava ao encontrar com aquela senhora com as mãos na cintura e uma expressão de poucos amigos, de quem tinha acabado de enfrentar uma enorme fila no banco. Tudo mudava depois das flores...

Eram bons tempos, mas tudo mudou, não há mais a praça, a grama macia, as flores, os lindos jardins. As nuvens se fundiram a fumaça, as tardes de outono são vividas em pequenas salas atrás de uma mesa e um computador onde limitaram nossa liberdade.

Hoje, enquanto caminhava perto do estacionamento, quase não percebi, no canto, encolhida e tímida, ela chamou a minha atenção, com sua beleza inconfundível e única. A última, a mais linda rosa, de cor única, tão vermelha, tão... especial. Não me contive, não poderia deixá-la ali, ela morreria, ou de certo seria pisoteada. Pensei então: “O que fazer?”





Guardá-la: é egoísmo; Vendê-la: é crueldade; Dividi-la: um crime. 
Cheguei a uma conclusão: