- As fotos ficaram ótimas, você não acha?

- O álbum completo ficará 180 reais já com 10% de desconto...
O homem parecia lançar palavras ao vento, falava do valor das fotos, da iluminação, das parcelas, do melhor dia pra pagar; e a garota parecia imóvel segurando uma foto. Na sua mente era como se o tempo tivesse voltado e ela pudesse ser telespectadora de toda aquela história.
Visualizou sua entrada no salão de formatura: estava linda, o cabelo com grandes e modelados cachos e um vestido preto frente única que havia lhe “caído como uma luva”. O cenário era perfeito, o salão todo decorado, as luzes e o som em uma harmonia única. Tudo parecia impecável ainda assim nenhum sorriso lhe escapava.
Havia se preparado o ano todo para aquele dia, eram tantas expectativas. Já tinha pensado em todos os detalhes e calculado todas as variáveis, mas um erro no percurso, uma palavra dita no momento errado mudou completamente seus planos.
Uma tarde, um ônibus, um pedido, uma resposta, uma palavra. Parecia tão simples...
A seqüência trágica de desencontros a levou até aquele momento. Entrava no salão acompanhada por um jovem bem trajado e igualmente sério, observaram a mesa onde haviam alguns amigos e sentaram. A situação não lhe agradava, o rápido namoro havia terminado, não sem antes lhe deixar o amargo sabor da decepção.
Compreendeu que o relacionamento não tinha futuro e não estava triste pelo fim, estava triste pelo começo.
Ter o ex namorado como par para aquela noite tão sonhada não era o que esperava, contudo não podia voltar atrás.
A música já a deixava tonta, em uma tentativa de fuga levantou-se da mesa para andar pelo salão, foi quando...
- Qual o melhor dia para o vencimento?
-Ah?!
- Dia dez ou vinte?
Vinte metros, era a distancia que a separava da tentativa de salvar sua noite. Sem mais a perder subiu a escada até o fim do mezanino do saguão. Foi como se de repente estivesse vivendo o final de um daqueles filmes românticos que alcançam o ápice na festa do baile de formatura e mesmo depois de todos os desencontros no final do baile, ao som da ultima valsa, o casal apaixonado ainda tem uma chance.
Este era o momento em que tudo podia ser resolvido: o dialogo leve, os sorrisos, as palavras ganhavam forma e encobriam o barulho ensurdecedor da música ao fundo. Nascia a esperança de um final feliz para aquela noite, nada mai importava. O som, as cores e tudo mais pareciam perder a cor diante daquela cena.
- Moça, dez ou vinte?
- Vinte. – falava sem compreender o porquê.
Logo seus pensamentos voltaram para aquela noite Tudo tão perfeito, tão especial e único, o final feliz com o qual sonhara estava acontecendo.
Os olhares dos dois se cruzaram, um silêncio expectante surgia, a vida em volta desvanecia para dar lugar ao som, ao tom, à cor daquele momento. A aproximação sutil...
- Assine aqui, por favor.
A garota segurou-se para não insultar aquele que ousava interromper o ponto alto do seu devaneio. Só não o fez porque o fotografo revivia uma personagem também presente na história daquela noite.
Sutil como uma manada de gnus fugindo da presa, foi assim o surgimento da terceira pessoa – que fique claro: não convidada a participar daquele instante.
( Paro por aqui para permitir que você volte e releia a emocionante cena descrita antes da pergunta do fotógrafo para que possamos continuar)
... A aproximação sutil do jovem casal foi subitamente interrompida pela participação especial de uma nova personagem intitulada como “a amiga”.
Por mais que tentasse, sua lembrança não ultrapassava esse ponto. O clima de romance foi substituído pelo desconcerto e improviso, a noite terminou antes do previsto e o que restou foram algumas fotos.
O fotografo se despediu e a moça em passos lentos dirigiu-se de volta para dentro da casa. Guardou o álbum em uma parte pouco utilizada do armário em baixo de alguns livros e nunca mais tirou de lá.
Questionada meses mais tarde a respeito do desaparecimento do fotografo ela alega jamais tê-lo visto.
Ainda há gotas de sangue no álbum...
VIVIANE DAS GRAÇAS VIEIRA
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