
Hoje pela manhã houve um assassinato, não se noticiou nos jornais, nem no “plantão” de nenhuma emissora, também não aconteceu no Rio de Janeiro, ou em uma grande cidade. Aconteceu na minha casa, não apareceu a policia, nem os vizinhos vieram olhar. Foi por volta das dez horas, eu entrei na cozinha e minha mãe estava segurando a arma do crime: era uma faca. Ninguém se propôs a impedir o que estava para acontecer, eu tentei falar com a minha mãe, mas não adiantou. Ela não me disse nada, nunca foi tão fria comigo, eu achava que nenhuma mãe fosse capaz de cometer um crime. Minha tia pediu que eu saísse, que esperasse no quintal. Eu não queria, porque por mais que me doesse eu não queria me afastar da pobre vitima, sentia meu coração apertado, um nó na garganta e a tristeza de ver que só eu me importava. Todas as outras pessoas achavam natural aquela cena, acho que nunca irei entender. Fui obrigada a sair da cozinha, pude ouvir o barulho que vinha de lá, e quando já não se ouvia mais nada fui me aproximando lentamente, tinha medo de olhar. O chão estava sujo de sangue e minha tia se preparava para limpar, precisava estar tudo limpo no caso de chegar alguém. As próximas horas foram longas, e as lembranças não deixavam o meu pensamento, cada detalhe, cada segundo. Na hora do almoço, quando todos já estavam à mesa, eu fiz essa oração: “ Papai do céu, obrigada pelo arroz e pelo feijão, pela salada e pelo suco. Não deixe que falte comida para ninguém. Mas, diferente dos outros dias, eu queria te pedir que, se o Senhor puder, perdoe a minha mãe e a minha família e receba a pobre galinha quando ela chegar aí. Peça a ela desculpa por mim e lhe agradeça pela saborosa coxa. Amém”
Viviane das Graças Vieira - (ainda baseado em traumas reais.)
Nenhum comentário:
Postar um comentário