
“O tempo passa”, essa não é uma frase nova, mas real... Passaram os dias, as aulas, os alunos, e, invariavelmente, aqui estou: em outra sala de aula. São novos os tempos, mas ainda é a mesma sala de aula, o mesmo ambiente opressor dos dias de prova, o quadro negro (que na verdade é verde), o armário, as cadeiras, todas com um nome invisível anotado. É interessante como os três primeiros dias de aula definem a posição estratégica do aluno até o final do ano. Hoje, final de semestre, sala vazia, pude pela primeira vez ouvir todos os sons da rua, do carro dando partida, de um alarme disparando, da grafite da lapiseira em contato com o papel. Consegui observar uma formiga solitária que caminhava partindo do pé da mesa do professor
até se perder junto à cor do piso e aos devaneios dos meus pensamentos. Perdi-me junto à formiga, minha mente saiu para dar uma volta. Não foi resolver as patologias sociais ou para criar uma grande tese, já se passa todo o semestre pensando em assuntos importantes, foi só para “dar um tempo”. Os meus olhos seguiam aquele pequeno animal pela extensão da sala, como ela parecia conhecer com perfeição o caminho que devia trilhar, não havia setas ou informações, mas a formiga caminhava. Quantas vezes na nossa vida procuramos um semáforo ou uma placa de sinalização e ficamos perdidos. O problema não é a ausência de sinais é a nossa dificuldade de enxergá-los. Corremos tanto e tantas vezes que só vemos o que é grande e só ouvimos o que é quase um grito. O resto... O resto passa, como os dias, os anos, as aulas, as pessoas, os detalhes que podiam fazer toda a diferença. Deixamos tudo para trás, porque os grandes problemas da humanidade sufocam as enfermidades do coração. Negligenciamos o valor da nossa existência por achar que é egoísmo, tentamos salvar o mundo e nos esquecemos de nós mesmos. Saio da sala, já é tarde, apago a luz, é preciso economizar energia. Fecho a porta: espero que a formiguinha não tenha medo de escuro.

-baseado em um fim de semestre real
Viviane ... vocês sabem o resto