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Hobbies

"Hobbies são manias que protegem o mundo de nossa insanidade, adquira alguns e terá menos vontade de atirar objetos sobre outras pessoas."
Viviane das Graças Vieira


quinta-feira, 25 de junho de 2009

Porque estudamos? parte II - Devaneio


“O tempo passa”, essa não é uma frase nova, mas real... Passaram os dias, as aulas, os alunos, e, invariavelmente, aqui estou: em outra sala de aula. São novos os tempos, mas ainda é a mesma sala de aula, o mesmo ambiente opressor dos dias de prova, o quadro negro (que na verdade é verde), o armário, as cadeiras, todas com um nome invisível anotado. É interessante como os três primeiros dias de aula definem a posição estratégica do aluno até o final do ano. Hoje, final de semestre, sala vazia, pude pela primeira vez ouvir todos os sons da rua, do carro dando partida, de um alarme disparando, da grafite da lapiseira em contato com o papel. Consegui observar uma formiga solitária que caminhava partindo do pé da mesa do professor até se perder junto à cor do piso e aos devaneios dos meus pensamentos. Perdi-me junto à formiga, minha mente saiu para dar uma volta. Não foi resolver as patologias sociais ou para criar uma grande tese, já se passa todo o semestre pensando em assuntos importantes, foi só para “dar um tempo”. Os meus olhos seguiam aquele pequeno animal pela extensão da sala, como ela parecia conhecer com perfeição o caminho que devia trilhar, não havia setas ou informações, mas a formiga caminhava. Quantas vezes na nossa vida procuramos um semáforo ou uma placa de sinalização e ficamos perdidos. O problema não é a ausência de sinais é a nossa dificuldade de enxergá-los. Corremos tanto e tantas vezes que só vemos o que é grande e só ouvimos o que é quase um grito. O resto... O resto passa, como os dias, os anos, as aulas, as pessoas, os detalhes que podiam fazer toda a diferença. Deixamos tudo para trás, porque os grandes problemas da humanidade sufocam as enfermidades do coração. Negligenciamos o valor da nossa existência por achar que é egoísmo, tentamos salvar o mundo e nos esquecemos de nós mesmos. Saio da sala, já é tarde, apago a luz, é preciso economizar energia. Fecho a porta: espero que a formiguinha não tenha medo de escuro.
-baseado em um fim de semestre real
Viviane ... vocês sabem o resto

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Ônibus


1h e 14 min, tarde de sol, aos poucos um aglomerado de pessoas se forma com um objetivo comum: entrar no ônibus. Primeiro entra o motorista bate o cartão, ajeita a cadeira, guarda a bolsa, vira a placa, olha o retrovisor e faz sinal para que ente o primeiro passageiro. Um a um entram no ônibus, olham o motorista passam a catraca, todos com total naturalidade, fugindo às vezes em que o bilhete trava. As curiosidades começam aí, porque há maior busca pelos bancos altos e os da última fileira? E porque a pessoas insistem em sentar do lado do banco voltado para o corredor quando estão sozinhas? É constrangedor entrar no ônibus e ter de pedir licença para o individuo que está aparentando ter poucos amigos, dá a entender que estamos invadindo um espaço proibido, acredito nessas entrelinhas haver uma mensagem subliminar que diz: “Não sente!”, “Não importune!”, “Sujeito a mordidas!” Ou algo parecido. Você já fez isso! Sentou-se, desejando ocupar todo o banco. Ou pior, ás vezes aspirava que o ônibus lotado não recolhesse mais ninguém. Claro que já passou por isso, se não passou: vai passar. Falo por experiência própria. Certas situações tiram de nós respostas um tanto quanto egoístas. Imagine a cena: “busão” lotado (com todo o poder da palavra), final de tarde, trabalhadores estressados, pernas doloridas, você sente que não cabe mais ninguém e que se não tivesse perdido aquele 1Kg na academia o veículo não sairia do lugar. Neste instante se aproxima um ponto: nele está uma grávida e um casal de idosos – fique em nota que a grávida havia engordado além do necessário para uma simples gestação – vai dizer que a essa altura não passou pela sua cabeça o desejo de que o motorista tivesse um surto e passasse “batido” chegando a tempo de pegar um lugar no das seis. É egoísmo, não é louvável, nem de se orgulhar, mas é fato. Fugimos do assunto, onde estávamos? Ah, nas curiosidades! Não sei bem o porquê dessas atitudes, acredito existir explicações que variam entre a pressa de sair do ônibus, o cansaço, alguns atos reativos e o desejo de superioridade. O ser humano é esquisito, estudos dizem que ao nosso redor mantemos um círculo protetor num raio de 60cm do nosso corpo que, quando invadido nos leva as mais diferentes reações. Com a realidade brasileira, o desemprego e o horário de pico não podemos nos dar a esse luxo: 110 pessoas ocupam o lugar de 70, entre gordos, magros, grávidas, idosos, crianças e estudantes; nosso espaço é constantemente invadido, principalmente no “coletivo”. O percurso continua, cada parada é uma nova história, algumas pessoas entram e se acomodam enquanto outras se preparam para descer. Algo interessante para comentar é a disposição do diálogo no ônibus. Certas pessoas conseguem manter a discrição, mas não todas. É aquele caso da conversa forçada, quando a necessidade de falar supera o limite da razão e temos o privilégio de ouvir as pérolas do tipo: “Está quente hoje!” ou ”Acho que vai chover!” Essas pessoas são dignas de pena, dá para tentar melhorar ou até mesmo ser mais sincero: “Escuta, estou a algum tempo sem falar com alguém, não estou agüentando, por favor fale comigo!” Tudo bem, foi sincero demais. Procure algo que fique entre o clima e sua sinceridade, assim, ao menos você mantém a dignidade. Chega meu ponto, eu me levanto e desço, é um alivio saber que não desembarco sozinha. Sabe como é, ônibus de cordinha, morro de medo de não alcançar. Viviane das Graças Vieira
- baseado em situações reais

terça-feira, 9 de junho de 2009

O amor é cego!

O dia dos namorados está chegando e esta é minha singela homengem aos casaisinhos felizes, sim, aqueles que vão ao zoológico no domingo a tarde, os que voltam a infância e perdem a noção de vocabulário, usam termos do tipo: "minha florzinha", "meu moranguinho", "deliga você!", "eu te amo mais!" Aquele que riscam fulano e ciclano em todos os cadernos e agendas com coraçõezinhos e flexinhas, aos fãs do diminutivo e também ao que ligam para o namorado(a) e a primeira coisa que falam é "Onde você está?" Para todos vocês: Feliz dia dos namorados!!! E, se o amor é cego, como as pessoas falam por aí, dou-lhes uma dica para um presente diferente e original, esqueça as flores, os chocolates, os perfumes e ursinhos, abraçe a campanha: "Meu amor é cego!" e passe na ótica mais perto, deixe de lado o consumismo exagerado, dê este ano um refresco para o seu bolso e quem sabe isso se repita pelos próximos anos.




quarta-feira, 3 de junho de 2009

TESTEMUNHA DE UM CRIME


Hoje pela manhã houve um assassinato, não se noticiou nos jornais, nem no “plantão” de nenhuma emissora, também não aconteceu no Rio de Janeiro, ou em uma grande cidade. Aconteceu na minha casa, não apareceu a policia, nem os vizinhos vieram olhar. Foi por volta das dez horas, eu entrei na cozinha e minha mãe estava segurando a arma do crime: era uma faca. Ninguém se propôs a impedir o que estava para acontecer, eu tentei falar com a minha mãe, mas não adiantou. Ela não me disse nada, nunca foi tão fria comigo, eu achava que nenhuma mãe fosse capaz de cometer um crime. Minha tia pediu que eu saísse, que esperasse no quintal. Eu não queria, porque por mais que me doesse eu não queria me afastar da pobre vitima, sentia meu coração apertado, um nó na garganta e a tristeza de ver que só eu me importava. Todas as outras pessoas achavam natural aquela cena, acho que nunca irei entender. Fui obrigada a sair da cozinha, pude ouvir o barulho que vinha de lá, e quando já não se ouvia mais nada fui me aproximando lentamente, tinha medo de olhar. O chão estava sujo de sangue e minha tia se preparava para limpar, precisava estar tudo limpo no caso de chegar alguém. As próximas horas foram longas, e as lembranças não deixavam o meu pensamento, cada detalhe, cada segundo. Na hora do almoço, quando todos já estavam à mesa, eu fiz essa oração: “ Papai do céu, obrigada pelo arroz e pelo feijão, pela salada e pelo suco. Não deixe que falte comida para ninguém. Mas, diferente dos outros dias, eu queria te pedir que, se o Senhor puder, perdoe a minha mãe e a minha família e receba a pobre galinha quando ela chegar aí. Peça a ela desculpa por mim e lhe agradeça pela saborosa coxa. Amém”
Viviane das Graças Vieira - (ainda baseado em traumas reais.)