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Hobbies

"Hobbies são manias que protegem o mundo de nossa insanidade, adquira alguns e terá menos vontade de atirar objetos sobre outras pessoas."
Viviane das Graças Vieira


quarta-feira, 24 de março de 2010

QUANDO EU ACORDEI

Acordei e vi que as horas haviam passado... Abri os olhos e vi que tudo havia mudado.
Tinha medo de acordar, mas acordei. Descobri que era noite. Que os amigos não estavam mais por perto, que muita coisa aconteceu: planos, sonhos, conquistas e eu não estava aqui.
Esta não foi a primeira vez que  abri os olhos, mas a cada vez é mais difícil. Já me esqueci o que é olhar nos olhos; não me lembro do que é falar sem medo, sem calcular cada palavra. Acostumei a falar o que querem ouvir e algumas mentiras até me enganam. Não sei o que é chorar para alguém ou o que é pedir ajuda.
Percebi, depois de tantos anos, que nem sequer gravei certos rostos, que vi a pouco como se fosse a primeira vez. Cheguei à conclusão de que Carlos Drumond, Mario Quintana e Luis Fernando Veríssimo sabem mais sobre mim do que eu mesma, ou ao menos é o que parece.
Tanta coisa eu queria ter feito e não fiz, queria ter dito e não pude. Tantas vezes quis chorar e sorri. Quantas verdades foram omitidas, quantos segredos foram segredos por não ter para quem contar.
As melhores crônicas não foram postas no papel, os maiores segredos ficam nas entrelinhas. A verdade fica escondida no fundo dos olhos, é onde, hoje em dia, ninguém procura.
Foi assim, eu acordei, quis gritar, mas não gritei. Quis um bom fim para a minha história e não encontrei.
Acordei, me senti só, cansada e triste. Contudo uma boa noticia: eu “senti” – não estava mais dormindo.
VIVIANE DAS GRAÇAS VIEIRA

terça-feira, 16 de março de 2010

quarta-feira, 3 de março de 2010

Ócios do pacote

Dizem que enquanto um brasileiro descansa um chinês trabalha. Não duvido, nem contesto, acho até uma teoria interessante. Mas já se viu em outro país um funcionário como o brasileiro? Temos o dom de absorver serviços inimagináveis, não somos os mais ágeis ou infalíveis, porém se erramos, o fazemos com classe e sabemos ser flexível.
Trabalhei num respeitável setor de pacotes de uma renomada loja em minha cidade. Foi um bom emprego, o meu melhor primeiro emprego, lá eu presenciei diariamente situações que me proporcionaram um aprendizado incomensurável.
Havia coisa que eu amava outras, no entanto, que dói só de lembrar. Vi de perto algumas situações que me levaram a observar algumas curiosidades, como por exemplo, o fato das pessoas se preocuparem tanto com a opinião de terceiros.

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A mulher compra uma bacia – o item varia podendo ser uma caixa de isopor ou uma panela industrial – o caso é que não há uma sacola que comporte tais produtos. E então? Pelo estranho desconforto em imaginar a reação das outras pessoas ao verem esse objeto sendo carregado pelas ruas e ônibus, as pessoas fazem a seguinte opção, para o desgosto do empacotador:
- Pode passar um papel?
E ainda arrematam:
- É para as pessoas não ficarem olhando.
Passar um papel?! Sabe que papel é esse? É manilha ou Kraft e dependendo da situação financeira e do humor do funcionário pode ser até jornal. Pobre, pobre, pobre! Se não é tão pobre, é pobre e feio.
No lugar de uma bacia de cor saliente e grande utilidade doméstica, a dona de casa se propõe a andar com um estranho e gigante embrulho atraindo olhares curiosos e críticos. Contraditório e esquisito!

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[...]Existem clientes carentes e atendentes carentes, são aqueles que mendigam uma conversa, ainda que boba falando sobre  o tempo. Em meio ao silencio de um embrulho o cliente começa a contar para quem é o presente e termina citando a manchete do jornal de domingo. Funcionário carente é o que em poucos minutos passa a falar mais do que o cliente revelando seus traumas e expondo sua intimidade.


Entre casos e acasos do cotidiano de cada trabalhador, convive-se com o difícil contraste entre o que somos e o que fazemos, conciliar essa situação pode ser exaustivo, contudo acredito que ninguém o faça melhor do que o brasileiro. Pelo menos não com tanta alegria, criatividade e excelência atrás ou na frente de um balcão. 

Viviane das Graças Vieira